Como já vem sendo hábito, sempre que podemos fazemos algumas visitas ou viagens em busca de novas experiências e informação, de forma a enriquecer cada vez mais a nossa exploração apícola e a qualidade dos nossos produtos.
Desta vez foi à Califórnia, nos USA, onde vivemos durante duas semanas “a Portuguese Dream”!
Esta viagem teve como objetivos visitar e trabalhar com alguns dos maiores apicultores e criadores de raínhas do mundo, permitindo-nos “perceber e ver” como é possivel conseguir gerir tantas colmeias e criar tantas raínhas por ano…
Visitamos várias explorações de criação de raínhas, a norte de Sacramento, sendo esta região a “Capital” mundial de criação de raínhas, dada a grande concentração de criadores de raínhas profissionais. No conjunto das explorações que visitamos, produzem cerca de “1 MILHÃO” de raínhas por ano, sendo a produção nesta região, ainda superior a este número.
Além do interesse em visitar e aprender novas técnicas de criação de raínhas, tivemos também o interesse de perceber como os grandes apicultores estão a enfrentar o tão “badalado” Sindrome do Colapso das Colónias” (CCD), bem como têm combatido o “Hive beetle (Aethima thumida).
Quanto ao CCD, nenhum dos apicultores que visitamos se mostrou preocupado com estas questões, pois têm as suas colmeias bem nutridas e saudáveis. Um deles teve de matar 5 bidons de 200L de abelhas o ano passado, pois assim teve de ser, dado o excesso de abelhas que teve.
Têm uma equipa comum de técnicos que fazem análises regulares às colmeias para medir os niveis de varroa e esporos de nosema, de forma a poderem fazer os respetivos tratamentos atempadamente, pois não têm tempo para serem eles a fazer este importantíssimo trabalho. A FumagilinaB, continua a ser um produto essencial para manter as colmeias com niveis baixos de nosema, sendo usado com muita regularidade. Ficaram muito admirados e surpreendidos como é possivel que não seja permitido na união europeia, pois tem sido fundamental. O Amitraz, “homemade” o produto principal usado para controlar a varroa.
Para isso é necessário gastar milhares de euros em alimentação artificial e suplementos nutricionais de qualidade. Esta tem sido a chave para o sucesso destes apicultores que nada se mostraram preocupados com o futuro… apesar de partilharem a mesma opinião que cada vez é mais dificil manter as colmeias saudáveis e fortes.
Como em todo o lado… uns só usam “Xarope de alta frutose de amido de milho”, outros Sacarose (de beterraba), outros misturam os dois… bem, não existe unanimidade nesta questão. Estamos a falar de apicultores que gastam milhares de dólares anualmente em alimentação.
Algo que partilhavam em comum é que a sacarose faz a raínha colocar muitos ovos e gastavam muito mais dinheiro em alimentação para conseguir dar peso às colmeias e “engordar” as abelhas, tendo-as mais fortes, daí uns usarem apenas xarope de alta frutose de amido de milho e outros um “Blend” dos dois. Sendo este ultimo o mais comum.
A alimentação proteica, também é algo de fundamental, onde as pastas proteicas são regra de ouro, algo que nunca pode faltar. Muitos compram já feita a alguns apicultores locais que se dedicaram a isso, pois têm receitas comprovadas, outros continuam a fazê-la, sendo a base dela a levedura de cerveja, misturada com diversos produtos que aumentam a palatabilidade, e resultados finais.
Parece que existem algumas leveduras de cerveja no mercado que não são indicadas para as abelhas, sendo mesmo rejeitadas pelas mesmas… e só por obrigação misturada com muito xarope de açucar as comem, enquanto a mais indicada é facilmente aceite pelas abelhas.
Isto leva-nos a questionar se estaremos a usar a levedura mais indicada em Portugal… pois a levedura de cerveja verdadeira são células pulverizadas do fungo “Sacacharomyces cerevisiae”, com baixos níveis de cinza e níveis de sal inferiores a 12%. Esperemos que a fabrica que tem fornecido a maioria da levedura em Portugal nos esteja a vender o mais correto, pois as nossas experiências com levedura não são as melhores.
Algo que também nos surpreendeu, foi o facto de nos terem dito que o motivo para continuarem a insistir na abelha italiana, tem a ver com a sua alta prolificidade, e, fazendo uma boa gestão para manter o nivel de abelhas alto ao longo do ano, evita que as colmeias sejam “atacadas” pelas doenças e “sucumbam” fácilmente. As raças de abelhas que reduzem a sua população durante alguns periodos do ano, terão mais susceptibilidade a que não consigam recuperar a um surto de nosema ou varroa… algo que faz sentido e nos deixou a pensar.
Quanto à Aethima tumida, também ficamos surpreendidos, ao ficar a saber que este escaravelho não gosta de muito calor, nem de muito frio… morrendo facilmente sob estas condições. Em zonas com solos “duros”, como é o caso de solos argilosos (ex. Barros de Beja), os escaravelhos não conseguem penetrar o solo e não se desenvolvem. Preferem zonas mais tropicais, com calor, humidade e solos leves. Pessoal do Litoral de Portugal… preparem-se!
A prova disso é que apesar de haver transumância de milhares de colmeias para a Califórnia, colmeias com origem de zonas com presença de Aethima thumida (Ex. Florida), este escaravelho nunca se conseguiu desenvolver neste “estado”, bem como noutros nos USA. Já foi idenfificado e por vezes aparece um ou outro nas colmeias, mas por algum motivo não se dá bem. Esperemos que assim seja na Europa e principalmente em Portugal.
Os apicultores na maioria dos USA, estão fortemente dependentes do dinheiro que rebebem pela polinização. Os que melhor pagam são os produtores de amêndoas, chegando a pagar entre 100 a 180 dólares/colmeia por 3 semanas de polinização, estando a apicultura maioritariamente dependente destas receitas, pois dizem que lhes pagam as despesas anuais… ou seja todo o restante é puro lucro (paquetes de abelhas, rainhas, mel, etc.).
A maioria da viagem foi vocacionada para a nossa grande paixão… a criação de abelhas raínhas de qualidade! Por vezes ainda pensamos se terá sido mesmo real aquilo que presenciamos, pois é inacreditável a dimensão das explorações que visitamos. Obviamente que são explorações com décadas de experiência e crescimento, contudo não deixa de ser meritório a coragem e organização que é necessária para atingir os números impressionantes de raínhas que criam anualmente.
A apicultura aqui praticada, dá muita importância à compra de raínhas e substituição anual das mesmas, seja por rainhas fecundadas, seja por alvéolos reais. Foi bastante interessante perceber a forma como gerem estas questões e os proveitos que retiram do investimento anual que fazem na compra de material vivo selecionado.
Das vezes que trabalhei no campo, os apicultores levavam sempre rainhas fecundadas com eles, pois caso encontrassem uma colmeia zanganeira, fraca ou com rainha de baixa qualidade, tinham sempre rainhas para recuperar as colónias e manter os efetivos. As rainhas são vistas como um “instrumento” de uso obrigatório.
A venda de alvéolos reais está em crescimento, pois cada vez mais existem apicultores a saber trabalhar com eles, sendo também uma forma de contornar o problema de falta de rainhas fecundadas no mercado, bem como uma forma de poupança. Temos o caso do “Miller”, o apicultor que aparece no famoso filme “O Homem e as Abelhas”, com o qual falamos e também tinha colmeias na zona que visitamos, que apenas trabalha com alvéolos reais. Compra 500 por dia a uma das explorações que visitamos.
Sabemos que as “bases” para a produção de alvéolos reais é invariavelmente “idêntica” em qualquer parte do mundo, assim, a biologia da abelha o dita, contudo, na maioria das explorações que visitamos são bastante diferentes daquilo que estamos habituados a ver na Europa, havendo técnicas mais simples, menos trabalhosas e com resultados idênticos, entre muitos pormenores de maneio que fazem a diferença.
Foi uma viagem, que mudou para sempre a forma com que olhamos para a apicultura, e nos irá fazer alterar a gestão e maneio das nossas colónias… bem como na forma que criamos rainhas, simplificando alguns métodos, aumentando taxas de aceitação e fecundação e o mais importante, conseguir iniciar a época de criação de rainhas um pouco mais cedo.
Connosco trouxemos conhecimento e amizades, que serão muito importantes para o futuro da nossa exploração. Aquilo que trazemos desta viagem vai permitir-nos atingir uma dimensão profissional pela qual temos trabalhado e lutado muito, pois é algo que leva tempo a construir e alcançar.
Da nossa parte tudo temos feito para que os nossos produtos tenham uma qualidade superior, de forma a manter a confiança que os nossos clientes depositam no nosso trabalho e material vivo produzido. Foi por nós, mas sobretudo por todos aqueles que têm depositado confiança no nosso trabalho e têm trabalhado diretamente connosco que fizemos mais uma viagem apícola enriquecedora.
Algumas fotos:
João Tomé
…um apicultor, pela apicultura…
Caro Eng João Tomé.
Cada vez mais acredito na nova geração de apicultores, e muito mais nas pessoas que admiro. As viagens que o eng. tem feito pelo mundo são, seguramente, um incentivo ao desenvolvimento da apicultura nacional, acrescentando uma mais valia.
Na sua mensagem levanta a duvida, referindo-se à alimentação proteica, se a utilização de leveduras pelos nossos apicultores é a mais adequada à alimentação das abelhas.
Informo que 90% da levedura importada para a Península Ibérica tem apenas 0,09 % de sódio (sais) muito menos que a percentagem utilizada no outro lado do atlântico. A europa é bastante mais rigorosa na aceitação dos produtos importados. a nossa levedura é obtida pela pulverização do fungo sacacharomyces cerevisiai com reduzido teor de cinzas. Se tiver interesse, estou disponível para disponibilizar ficha técnica detalhada do produto ou outras informações que julgue oportunas.
Os meus respeitosos cumprimentos.
Urbano
Realmente sem comentarios, anos luz á nossa frente…
Trabalho Magnífico, João
P'rá próxima vou contigo
Abraço e continuação de bom trabalho!!!
Pifano