“Desde talvez a Idade Média, foram construídas, em vários regiões da Península Ibérica, estruturas para proteger os colmeais da acção predadora dos mamíferos e, em particular, dos ursos. Estas construções são constituídas por muros de pedra, definindo recintos fechados (Figura 1), que chegam a atingir vários metros de altura e apresentam, muitas vezes, remates avançados para o exterior para impedir o acesso ao seu interior. Implantam-se, em geral, no fundo dos vales, voltados a Sul e sobre a confluência de duas linhas de água.

Os muros-apiários são testemunhos materiais, duráveis, da actividade apícola e podem corresponder, em muitos casos, a uma longa utilização, durante várias centenas de anos, ou pelo menos a um uso recorrente. O seu estudo, dos pontos de vista estrutural, funcional e cronológico, reveste-se de muito interesse e originalidade.

No século precedente, nas Memórias Paroquiais de 1758, em resposta à questão “quais os frutos que a terra dá?” os párocos de Escalos de Baixo, Malpica, Monforte, Monsanto, Penha Garcia, Rosmaninhal, Salvaterra e Segura responderam ser o mel um desses produtos.


No interior dos muros, o solo é inclinado, de forma mais ou menos acentuada. Nos casos em que o declive é maior, os muros podem conter dois, três ou mais socalcos, escavados no afloramento ou estruturados em muros de pedra.
O desnivelamento existente entre estas filas facilitava a deslocação das abelhas. Há muros que possuem um orifício, na cota mais baixa, para escoamento da água acumulada no interior. Na face exterior, este buraco surge elevado em relação ao solo.
A existência de árvores, não muito altas, ou arbustos, no interior dos muros era de todo o interesse para os enxames se fixarem quando da sua saída, enquanto esperavam pela rainha. Esta espera facilitava a sua captura. Na região do médio Tejo, nos muros ocupados até há poucos anos, são ainda visíveis as árvores ou os arbustos atrás referidos. Paulo Dias (DIAS, 1993) regista a mesma característica nos muros da serra do Gerês.

Os muros teriam como função primordial proteger os cortiços colocados no seu interior. Actualmente, os principais inimigos dos cortiços (ou colmeias) que poderiam exigir este tipo de construção são os incêndios (ANDRADE, 1988), o vento (ALMEIDA, 1943), o texugo (Meles meles) e o saca-rabos (Herpestes ichneumon). No passado o urso pardo (Ursus arctos) era outro inimigo a considerar. Este mamífero pode mesmo ter determinado o início da construção destes muros” (Muros-apiários da bacia do médio Tejo – Regiões de Castelo Branco e Cáceres).

A 350 metros de um dos nossos apiários, temos o previlégio de ter um destes muros apiários, sendo a prova inequivoca da qualidade excepcional desta zona para a apicultura.


Este muro apiário localiza-se no Monte da Fonte Santa De São Luís (http://www.fontesantasluis.com/), um local maravilhoso, que se aconselha para passar um fim de semana ou até umas férias, sendo o descanso, tranquilidade e convivio com a Natureza, palavras de ordem. Das inúmeras actividades disponiveis, faz parte o apiturismo.

Fotos do Muro apiário da Fonte Santa:
– Vista Superior a Noroeste –
– Vista inferior a Sudeste –
– Socalcos dos cortiços –
O muro apiário encontra-se em fase de reabilitação, esperando que na próxima primavera de 2012 possa receber de novo colónias de abelhas nos “cortiços tradicionais”.
Showing 3 comments
  • montedomel

    Olá João Tomé,

    Bastante interessante o artigo sobre os muros apiários,

    Pifano

  • Rosmaninho

    É um estudo muito interessante que vale a pena ler na sua totalidade. "Muros-apiários da bacia do médio Tejo – Regiões de Castelo Branco e Cáceres".

    Um abraço

  • Anónimo

    Gostei muito do artigo. Ficamos à espera de mais.
    Um Feliz Natal!
    Abelhasah

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